A vida humana já foi tratada de muitas formas ao longo da história: ora valorizada, ora aviltada. A fim de que tenhamos uma ideia, Platão defendia a interrupção da gestação de mulheres que engravidassem após os 40 anos, e, em Roma, a prática do aborto tinha por objetivo preservar a beleza do corpo. Aristóteles, por sua vez, defendia o aborto até o 40º (para meninos) ou 90º (para meninas) dia de gestação, por conta do primeiro movimento no útero materno, dando-nos a dimensão de que os homens seriam superiores às mulheres.
Algumas teorias, inclusive de cunho filosófico, indicam vários momentos em que, se pode defender, a vida tem início. Como mais relevantes, destacam-se as que propõe que a vida inicia na concepção ou no nascimento.
Há que se defender, contudo, que a vida começa na concepção, já que, quando da fecundação, um novo ser humano é formado, com características genéticas ímpares (que determinam, por exemplo, o sexo, a cor dos olhos e dos cabelos, e o tom de pele), o que nos impede de considerá-lo mero prolongamento do corpo materno. Ademais, só o óvulo humano fecundado pode desenvolver um ser humano adulto, o que ocorrerá, com o passar do tempo, através da nutrição.
Escrevi certa vez que, na China, dada a superpopulação e uma determinação do governo de que cada casal não poderia ter mais de um filho, bebês são facilmente encontrados nas ruas, mesmo em cidades mais populosas. Além disso, os fetos chegam a ser vendidos por US$1,28 e, nas clínicas particulares, são comercializados por módicos US$38,00. Em Taiwan, tem sido costume a ingestão de fetos, vendidos livremente nos supermercados como se fossem um enlatado de salsicha, pois, segundo aquela cultura, os mesmos teriam poderes afrodisíacos.
Tratando do Brasil, estamos passando por mais um caos na saúde pública. O número de fetos com microcefalia (a cabeça e o cérebro da criança são menores do que o normal para a idade) cresceu assustadoramente no país. Ainda não há uma causa definida pelos especialistas: enquanto alguns a atribuem ao Zika, outros dizem haver relação com vacinas vencidas contra a rubéola.
Seja como for, é importante esclarecer que a microcefalia não induz à morte das crianças, mas se constitui em uma limitação em seus aspectos neurológicos. O mesmo podemos dizer de pessoas com esquizofrenia, algum tipo de retardo mental, certos casos da Síndrome de Down, entre outros. E nenhum de nós tem a audácia de defender o aborto para esses casos.
Além disso, neste ano, em que o Rio de Janeiro será sede dos Jogos Paraolímpicos, o mundo é mais uma vez lembrado de que não deve haver qualquer tipo de discriminação com pessoas que possuam alguma limitação, física e/ou mental.
Nesses casos, a maior discriminação seria puni-las com a pena de morte, ou melhor, de aborto!