Nos últimos dias foi lançado o documentário “R$1 – O outro lado da moeda” (www.1real.org), que “revela a trajetória e os números que impulsionam o tráfico de pessoas para a exploração sexual no Brasil”. O filme foi produzido por várias organizações, algumas cristãs do Brasil e do exterior, já reconhecidamente envolvidas com a temática.
As estatísticas revelam que, apenas no Brasil, 40 mil crianças e adolescentes desaparecem a cada ano, com somente cerca de 34 mil delas sendo posteriormente encontradas. Boa parcela das outras 6 mil integram as cifras dos que exploram o tráfico de pessoas. No mundo a atividade movimenta 32 bilhões de dólares anualmente, estimando-se em 27 milhões de explorados – por isso a campanha internacional www.27million.com. Essa modalidade de tráfico tem como motivos a venda de órgãos, o trabalho forçado e, principalmente, a exploração sexual comercial.
Fato é que boa parte das vítimas desse crime já foram, nalguma medida, submetidas a outras formas de abuso e de exploração, inclusive dentro de casa, sendo certo que as condições socioeconômicas precárias fazem com que muitas meninas (elas são certamente a absoluta maioria nesse ramo) sejam vistas apenas como objetos por seus responsáveis.
E o que ainda é mais estarrecedor, há as chamadas “listas vips” da prostituição, composta por pessoas de altíssimo poder financeiro – “políticos, delegados e médicos” são apontados por um ex-cafetão -, que chegam a pagar mais de 10 mil reais por um “programa”. Japão, Estados Unidos, Emirados Árabes e países europeus são os principais destinos das pessoas traficadas no Brasil.
Diante desse quadro, algumas sugestões de mudança aparecem no horizonte. Ater-nos-emos a duas.
A primeira parte de Steve Chalke, Assessor Especial da ONU, que afirma que se trafica unicamente por dinheiro, com alta rentabilidade e baixo índice de punição dos criminosos, sendo necessário, portanto, inverter-se a equação. Ela ainda aponta que “a solução para o tráfico de pessoas está na vizinhança.” A segunda, no mesmo passo, é dita pelo narrador do documentário: “Quem tem poder para interferir em cada uma dessas histórias continua sendo eu, você!”
Numa breve reflexão sobre como a Igreja pode auxiliar no combate à exploração sexual, um primeiro passo seria promover uma atenção maior àqueles que a cercam, cooperando com uma espécie de “rede de vizinhos protegidos”, fortalecendo a resiliência e estimulando a denúncia aos crimes.
No mais, deveríamos nos ater mais às nossas responsabilidades pessoais, ao invés de simplesmente relegarmos ao Estado um papel que não é exclusivamente seu. Além de, segundo a Constituição de 1988, ser “dever da família, da sociedade e do Estado” a proteção da criança e do adolescente (art. 227), as Sagradas Escrituras nos advertem: “Aquele que sabe fazer o bem e não o faz, comete pecado.” (Tiago 4.17)
Terminamos, aqui, do mesmo modo que o filme, com a música “Minha menina”, do Palavrantiga:
Ela saiu, sozinha
Longe de casa está
Mal se despiu ao mundo
Vejo o medo no seu olhar
A minha menina
Me olha nos olhos e pede socorro
Eu digo a ela:
‘Não venda o teu corpo. Segura a tua alma, menina
Me espera, menina’
Olha pra mim, te trouxe o bem
É a Boa Nova
Vejo você sorrir
Vem caminhar, ouvindo a canção
É esperança, é doce chuva que cai
Sobre ti